Definir a umbanda como religião parece fácil, existem datas, nomes, referencias. Outros até buscam na internet informações que hora ou outra tem a realidade distorcida para servir seus interesses. Existem pessoas que preferem apenas seguir o caminho do ódio e do preconceito esquecendo-se muitas vezes que somos todos irmãos do mesmo PAI. Mas gostaria de mostrar a minha visão sobre essa religião, que mexe muito com imaginário das pessoas e por vezes é apresentada como mística, mas que de misticismo nada tem.
Não tenho muito tempo na casa, e devo dizer que a mais ou menos um ano atrás pensar em umbanda era um tabu pra mim, mesmo com uma umbandista de muita fé ao meu lado, minha esposa. Quando pensava em “nomes famosos” da religião como “ZÉ PILINTRA, TRANCA RUA DAS ALMAS, EXU CAVEIRA” era algo que me fazia suar frio! Preconceito? Sim, com certeza. Afinal de contas tudo que sempre ouvi falar sobre esses nomes estava ligados a coisas ruins. Certa vez uma “médium” que era, e ainda é, amiga da família dos meus pais nos disse que tudo andava ruim porque o seo ZÉ PILINTRA estava trancando os nossos caminhos. O medo claro tomou conta e o medo nos leva, mesmo que de forma involuntária, ao preconceito.
Anos depois conheci minha esposa, eu católico apostólico romano frequentava as missa, aprendendo que muitas vezes ir a missa era um sacrifício que deveríamos passar. Não posso e não vou negar minhas origens, porem o fato é que o único momento em que eu me sentia de fato conectado com Deus e com o divino era durante a comunhão, durante aqueles breves minutos em que me ajoelhava e orava, sentindo a energia daquele momento ímpar.
Nesse meio tempo minha esposa ia ao terreiro e voltava ainda mais feliz e realizada do que quando saia de casa, ela contava os dias para as reuniões da terça-feira (na qual hoje participo com a mesma empolgação), eu sempre observada isso e pensava ”porque o terreiro pra ela não é um sacrifício? Como aguenta ficar lá quatro horas, uma vez que pra mim a missa que geralmente dura apenas uma hora é quase uma tortura medieval”? Exceto é claro durante a comunhão, o que realmente me motivava a ir a missa.
Meses depois fui conhecer o terreiro, era um sábado a tarde onde haveria um “bate papo com a mãe de santo”. Fiquei feliz em estar ali pois ela tirou muitas das minhas dúvidas, assim como duvidas de outros de filhos de corrente. Todos ali demonstraram uma alegria e uma satisfação em estar conversando sobre a religião e aprendendo, coisa que a muito tempo não via na “minha religião”. Porém o que mais me chamou a atenção foi a energia daquele lugar simples e pequeno, que se apresentava em um lugar grande e acolhedor. Isso despertou a minha curiosidade.
Semanas se passaram e minha esposa me convidou para ir acompanhar o seu amaci, momento muito importante na vida espiritual de um filho de corrente, mesmo com MUITO MEDO eu fui. Em quatro horas de gira eu senti exatamente a mesma conexão que sentia naqueles breves minutos da comunhão, senti o divino, senti a presença de Deus naquele lugar e algo me disse “filho bem vindo de volta pra casa”. Sai do terreiro diferente, mudado, melhor dizendo sai reconectado a tudo que sempre sentia e via desde muito pequeno. Então comecei a frequentar sempre a casa. Ainda com medo do seo ZÉ PILINTRA, fui a uma gira que pensava ser de boiadeiro, mas era de baiano, essa gira em especial eu tinha perdido alguém que amava muito, um grande amigo se foi em um acidente de moto e eu fui conversar com o seo Sete Ondas (chefe do terreiro), ele me ajudou e confortou o meu coração como um bom pai que cuida de um filho. Durante a segunda parte, chamaram meu nome para conversar justo com quem? SEO ZÉ PILINTRA! Fui com medo e minutos depois sai do atendimento com o sentimento único: o homem que era visto por mim a muito tempo como algoz da minha vida espiritual transformava-se em um pai e também amigo, antes algoz hoje herói.
E assim fui em diversas giras, mas ainda tinha que ir na famigerada linha de EXU, demônios incorporados em seus médiuns? Apesar de ir ao terreiro já a algumas semanas não sabia exatamente o que esperar, mas mesmo assim fui e coloquei meu nome confiante no caderninho da assistência. Logo fui chamado, quem me atenderia naquele noite era EXU CAVEIRINHA, e novamente tudo se repete, ele foi simplesmente sensacional, falou tudo “na lata” tirei todas as minhas duvidas e rimos muito, quem diria que eu iria rir e aprender tanto com um EXU!
Depois disso me vi leve, renovado e realmente reconectado a tudo que antes havia perdido, me senti em casa.
Hoje sou filho de Oxosse, uso guias, visto branco, sou filho de corrente do Terreiro Caboclo Akuan, filho do Sete Ondas e de tantos outros guias… Poderia contar tantas outras coisas que vivi e senti nesses poucos meses de casa. A mensagem que gostaria de passar nesse texto é que a umbanda vai muito além de definições, datas e de todo preconceito que se tem. A umbanda é uma religião linda, é energia, é amor, é caridade… e cada pessoa sente e vive de uma forma única.
Para você que quer conhecer a umbanda o conselho que posso lhe dar é: vivencie!
Texto de Leonardo Tribbiani – 11/01/2019 – Foi médium Terreiro de Umbanda Caboclo Akuan
Que depoimento lindo!!!!