Quando um médium entra para a corrente de um terreiro, normalmente chega cheio de empolgação, grandes expectativas e uma vontade gigante de desenvolver suas mediunidades, incorporar seus Guias e se aproximar dos Orixás e de Deus.
Ele espera a semana inteira o dia da primeira Gira na Casa, ansioso por aquele momento tão especial da sua vida. Chega ao terreiro animadíssimo e prestativo, querendo ajudar a todos. Procura entrosar-se com o grupo, puxa assunto, conta de sua vida, suas experiências anteriores (boas e ruins) na Umbanda e do quanto está feliz de participar do terreiro. Em pouco tempo, já encontrou irmãos com afinidades e se encaixou numa das “panelas” do Terreiro.
Tem “panela” de dois, de três, de poucos ou muitos irmãos, que passam a relacionar-se com mais frequência que somente encontros religiosos semanais – ligam para saber a linha de trabalho da próxima gira, um dá carona para o outro e aproveita para tomar um café, depois da gira vão comer uma pizza, fazem juntos oferendas e rituais na natureza, um vai na casa do outro, etc. Tudo girando em torno da afinidade inicial de todos: a Umbanda!
Mas a linha que separa os interesses gerais de Umbanda para assuntos particulares dos irmãos do Terreiro é muito fina e sutil. E as conversas passam facilmente dos procedimentos umbandistas para os comportamentos errados dos outros irmãos – aqueles que não estão na “panela”. Pronto! Isso já é maledicência e fofoca, que normalmente vem acompanhada de inveja, ciúme, vaidade, orgulho e maldade… E começam as famosas picuinhas entre irmãos de um mesmo terreiro!
E a motivação inicial que levou aquele médium ao terreiro – desenvolver sua mediunidade para ter um contato maior com Deus e sua espiritualidade – ficou esquecida ou perdida na pequenez do ego humano.
O médium deveria limitar-se a olhar para a frente (mãe/pai de santo) e para o Alto (congá); porém ele insiste em olhar para os lados e enxergar as falhas dos irmãos, apontando com seu dedo humano o espelho dos próprios defeitos que vê no outro… e atira a primeira pedra.
Todos se esquecem de que pisar semanalmente num solo sagrado não significa que ninguém se santificou, vestir o branco por fora não reflete necessariamente essa cor em seu interior, simplesmente incorporar um Guia não garante incorporar seus valores, ser médium umbandista não dá acesso direto ao clube fechado dos “ascensionados na carne”!
Jesus nos ensinou que os sãos não precisam de médicos! A Umbanda é um grande hospital da consciência e da alma e nossos Guias são os médicos que tentam nos curar das ilusões do ego que nos aprisionam em vivências mesquinhas e superficiais.
Ser umbandista é ter consciência de que, onde há ser humano, há falhas – assim é no seu trabalho, com seus amigos, no seu casamento, na sua família. Antes de apontar os erros alheios, enumere e conserte os seus. Antes de cobrar a melhora e a mudança do outro, faça a sua reforma íntima.
Quem é você para olhar para o lado e acusar um irmão de ser tão humano e falho quanto você?
E se os defeitos dos seus irmãos lhe são tão insuportáveis… talvez devesse procurar outra religião, outro Terreiro com médiuns menos humanos e mais divinos, onde você possa se concentrar sem se distrair com as limitações humanas ao seu lado.
(Autor Desconhecido)